terça-feira, 22 de julho de 2008

TONY CAMPELLO

Sérgio Benelli Campello, que viria a adotar o nome artístico de Tony Campello, nasceu em Taubaté, São Paulo, em 24 de fevereiro de 1936. Aos 14 anos de idade começou a cantar, sendo que no período de 1952 a 1954, entre seus 16 e 18 anos, se apresentava na Rádio Cacique de sua cidade, em um programa de auditório nas manhãs de domingo, juntamente com a sua irmã Célia Campello.
Em 1955 formou um conjunto de bailes, o "Ritmos Okey", no qual atuava como crooner. O grupo foi logo contratado pelo Country Club local e tocava nos bailes, eventos muito comuns e concorridos na época. No ano seguinte, foi para São Paulo tentar a vida artística, com o nome de Sérgio Campello.
Ele já integrava o "Mário Gennari e seu Conjunto" quando, em 1958, o acordeonista Mário Gennari Filho e Celeste Novais compuseram as músicas "Forgive me" e "Handsome boy", com letras em inglês, para um 78 rpm que seria gravado pela própria Celeste. Mas o disco, editado pela etiqueta Odeon, terminou sendo entregue ao cantor Sérgio Campello. Ele, então, gravou a música "Perdoa-me (
Forgive me)" (rock balada gravado sob o número 14.328-A, matriz 12.467), tendo sido o lado B, "Belo Rapaz (Handsome boy)", gravado por sua irmã Célia, então com 15 anos.
Algum tempo após, juntamente com a irmã, passou a comandar o programa "Crush em Hi-Fi", na TV Record, que ia ao ar nas terças-feiras às 19:00 horas, onde se apresentavam, como convidados, astros como Ronnie Cord, Demetrius, Carlos Gonzaga, Wilson Miranda, Sérgio Murilo e tantos outros. O programa ficou no ar de 1959 a 1962.
Em 1959 Tony participou do filme "
Jeca Tatu", de Mazzaropi onde, com Celly, cantou "Tempo para amar" e, em 1960, do filme "Zé do Periquito", também uma produção de Mazzaropi onde, com George Freedman, Paulo Molin, Celly Campello e Carlão, cantou "Gostoso mesmo é namorar".
Daí para a frente gravou inúmeros LP's ("Tony Campello"/ 1959, "Baby rock"/1960, "Tony Campello"/1961, "Não te esqueças de mim"/1963, "Tony Italiano"/1964, etc...) emplacando sucessos inesquecíveis como "Livro do coração", "Você me venceu", "Boogie do bebê", "Pobre de mim", "Baby face", "Querida Susie (Susie darlin')", "Baby rock", "Escola de rock", "Vamos dançar o twist" e inúmeros outros.
Tony tem o mérito de haver integrado o movimento precursor da música jovem no Brasil e chegado até a Jovem Guarda, havendo mesmo se apresentado naquele programa que animava as jovens tardes de domingo. Quando o primeiro programa foi ao ar no dia 22-08-65, lá estava Tony Campello ao lado de Roberto, Erasmo, Wanderlea, Ronnie Cord, Rosemary, os grupos Jet Black's, The Rebels e Os Incríveis. Com o passar do tempo, todavia, não encontrando ali o espaço que merecia, Tony se voltou mais para a sua atuação como produtor, tendo lançado discos de Deny e Dino, Silvinha, Sérgio Reis, Os Incríveis e outros.
A IMPORTÂNCIA DE TONY NA CARREIRA DE CELLY
Há um antigo ditado, até meio preconceituoso, que diz que "por trás de um grande homem há sempre uma grande mulher". Mas, aqui, o ditado funciona ao contrário. Por trás da carreira da grande estrela Celly Campello, houve um elemento propulsor, que na época se apresentava como que caminhando ao seu lado: o seu irmão Tony Campello.Todos se habituaram à presença de Tony nos shows de Celly. Os dois irmãos não formavam uma dupla (exceção apenas quando gravaram "O canário", em 1962 e quando Celly gravou "Não tenho namorado", em 1960, onde Tony tem uma participação em um rápido diálogo com a irmã); mas se apresentavam sempre juntos. E o que nós fãs sabíamos, é que ele acompanhava a irmã para que ela não viajasse sozinha, o que na época era impensável para a moça comportada que a Celly (e também a Célia) era. Isso também acontecia; eram vôos e mais vôos, ensaios e mais ensaios, hotéis e mais hotéis, shows e mais shows, assédio de fãs, e o irmão estava sempre ali, ao seu lado, para dar a ela o apoio necessário. Mas, mais que isso, Tony era o esteio que apoiava e orientava a carreira dela.
Já nas primeiras incursões de Celly no mundo da música, por volta dos 5 anos de idade, lá estava o "dedo" de Tony. Era influenciada por ele, que já gostava de cantar, que ela se apresentava na Rádio Difusora de Taubaté, no programa O Clube do Guri. Segundo depoimento dele ao Museu da Imagem e do Som daquela cidade, Celly era tão pequenina na época que às vezes precisava ser erguida no colo para poder alcançar o microfone.
O primeiro "encontro" dela com o rock em 1955 (aos 13 anos de idade) - a apresentação do novo ritmo à sua futura rainha, foi pelas mãos de Tony, então crooner do conjunto de bailes "Ritmos Okey", ainda em Taubaté. Ele conta de forma divertida no livro "ABZ do Rock Brasileiro", de Marcelo Dolabela (Editora Estrela do Sul): "No começo de 55 formei um conjunto (Ritmos Okey) e fomos contratados pelo Country Club local. Cantávamos sambas, baiões e boleros. Numa certa ocasião, além dessas músicas, ensaiamos 3 ou 4 números de Rock'n'Roll e tocamos no clube. Foi interessante e cômico. Quando começamos, ninguém dançava. De repente um casal de São Paulo começou a dançar, os outros aderiram e o baile pegou fogo. Mas logo apareceu o diretor social do clube, mandando parar. Então olhei para o grupo e, aproveitando os gritos dele de "pára", "pára", "pára", eu, os músicos e a garotada continuamos, mais alto e mais forte, a cantar e bater palmas no ritmo do rock. A turma não parou e o rock continuou. Após esta apresentação suspenderam o conjunto por atentado à moral e aos bons costumes".
Também as primeiras gravações da voz de Celly, ainda em 1956, foram feitas por iniciativa de Tony. Ele havia ido para São Paulo tentar a vida artística. Lá comprou um disco de alumínio para gravações, levou-o para a Rádio Difusora de Taubaté e gravou quatro ou cinco músicas com Celly (entre elas estão "
'Na voce, 'na chitarra e 'o poco 'e luna", "Do-ré-mi" e "Little darling").
Não foi diferente com relação à primeira gravação comercial de Celly. Conforme já relatado acima, Tony já integrava o "Mário Gennari e seu Conjunto" quando, em 1958, ele teve a oportunidade de gravar o seu primeiro 78 rpm com a música "Perdoa-me (
Forgive me)". Tendo em vista que a letra não se prestava a uma interpretação masculina, Tony sugeriu a sua irmã Célia, então com 15 anos, para gravar "Belo Rapaz (Handsome boy)" o outro lado do disco.
Também em 1959, quando estourou em todo o Brasil o 78 rpm de Celly com "Estúpido Cupido" e as portas se abriram para os discos seguintes, lá estava Tony garimpando músicas novas para sua irmã gravar. "Eu comecei a procurar um repertório pra Celly; aí apareceram 'Lacinhos Cor de Rosa', 'Broto Legal', 'Banho de Lua'...",
declarou ele no programa "A História do Rock Brasileiro - Parte 1", da TV Educativa. E assim foi durante toda a carreira de Celly, terminando por se deixar absorver pelas atividade detrás dos bastidores, conforme testemunha o cantor George Freedman, no citado programa "A História do Rock Brasileiro": "Tony Campello foi um dos precursores da época do rock, com muito sucesso na época. Ele só não continuou porque se dedicou à sua irmã, a Celly".
E assim foi Tony Campello na vida artística de Celly Campello: a mola propulsora e a bússola que mostrava o rumo certo. E assim foi Sérgio Campello na vida de sua irmã Célia Campello: o anjo da guarda que esteve sempre ao seu lado, até o último momento.


Nenhum comentário: